O cérebro em modo de sobrevivência

Quando o profissional de saúde está exausto, o cérebro entra em modo de sobrevivência: o córtex pré-frontal — responsável pelas decisões críticas — reduz sua atividade, e a amígdala assume o controle. O resultado? Mais impulsividade, lapsos de atenção e risco maior de erro assistencial

10/13/2025

O erro assistencial raramente é causado por uma falta de conhecimento. Frequentemente, ele resulta do desgaste mental, da carga excessiva de tarefas e da desconexão entre a atenção e a emoção. A neurociência evidencia que o cérebro humano, mesmo com um alto nível de treinamento, apresenta limites bem definidos — e ignorar esses limites pode ter consequências significativas, tanto para o profissional quanto para o paciente.

O cérebro em modo de sobrevivência

Em
situações de longas jornadas de trabalho ou durante períodos de intenso estresse, o cérebro entra em uma fase de economia de recursos conhecida como modo automático. Nesse estágio, a atividade do córtex pré-frontal — que é responsável pela tomada de decisões e raciocínio crítico — diminui, enquanto estruturas mais primárias, como a amígdala, se tornam predominantes nas emoções.


O resultado é fácil de prever: ocorrem decisões precipitadas, lapsos de concentração e um aumento na probabilidade de erros. Estudos conduzidos por Daniel Kahneman, laureado com o Prêmio Nobel de Economia, elucidam esse fenômeno através dos chamados sistemas 1 e 2 de pensamento. O sistema 1 opera de maneira rápida e intuitiva, ideal para situações de emergência, mas suscetível a vieses. O sistema 2, por sua vez, atua de forma lenta e analítica — e simplesmente não desempenha bem suas funções quando o profissional está fatigado.

O impacto real na prática assistencial

Estudos da Harvard School of Public Health
e da Organização Mundial da Saúde indicam que a fadiga cognitiva pode elevar em até 60% o risco de eventos adversos que poderiam ser evitados. No contexto hospitalar, isso se reflete em erros de medicação, falhas de comunicação e interpretações equivocadas de sinais clínicos sutis.

Adicionalmente
, a falta de sono afeta o sistema dopaminérgico, o qual regula a motivação e a sensação de recompensa. Essa conexão explica o motivo pelo qual profissionais sobrecarregados relatam uma impressão de "funcionar no modo automático", sem prazer, foco ou empatia — um contraste pleno ao que a assistência segura requer.

Neurociência aplicada ao cuidado

Um
aspecto alentador é que o cérebro possui plasticidade — ele se adapta desde que receba a estimulação adequada. Intervenções neurocomportamentais simples podem restabelecer o equilíbrio entre a razão e a emoção, diminuindo consideravelmente o risco de erros.

Algumas intervenções práticas incluem:

Micropausas intencionais (de 30 a 90 segundos) podem reduzir em até 20% a probabilidade de lapsos na atenção.

Técnicas
de respiração diafragmática e foco no momento presente ativam o sistema nervoso parassimpático, reduzindo os níveis de cortisol e restaurando a clareza mental.

Fornecer
feedbacks rápidos e sem punições promove a liberação de dopamina e serotonina, reforçando o aprendizado em detrimento da culpa.

Essas práticas, quando implementadas em equipe, criam um ambiente de autoconsciência coletiva e potencializam a cultura de segurança psicológica — a base fundamental para qualquer progresso contínuo.

Da exaustão à excelência

A
gestão da qualidade não se fundamenta apenas em seguimentos de protocolos. Ela se baseia em cérebros saudáveis, regulados emocionalmente e capazes de raciocinar de forma clara sob pressão. Investir na saúde mental e no treinamento neurocognitivo dos profissionais não é um gasto, mas sim uma estratégia.

Um
profissional que compreende o funcionamento de seu próprio cérebro se torna mais atento, mais empático e mais eficaz. Uma instituição que possui essa compreensão diminui os erros, melhora os resultados e enriquece sua cultura de cuidado.

Na Somos Um Por Cento Melhores, unimos neurociência, comportamento e inteligência artificial para transformar aprendizado em performance assistencial.
Pequenas mudanças, aplicadas todos os dias, criam resultados extraordinários.
Tudo começa pelo cérebro.